segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

ALUCINAÇÃO

(Belchior)

" A minha alucinação é suportar o dia a dia,

e o meu delírio é viver experiências reais"

O verdadeiro fardo de alguém que não consegue viver de maneira estável, que gostaria de viver a vida com um propósito, viver a própria vida, e não a vida dos outros.



Se tem energia, está maníaca; se está sem energia, está deprimida


Estive hipomaníaca durante aproximadamente um mês. não posso negar, foi bom. Uma energia interminável, acordando cedo, o que é completamente estranho para mim, fazendo muitas coisas, várias ao mesmo tempo.
Estava há uma semana dormindo quatro ou cinco horas por noite. Hoje sei que isso é um alerta. Percebi que não estava bem em um sábado de manhã que tinha prova do meu curso de Pós. Estudei até três horas da madrugada, acordei às seis e enquanto fazia o café, limpei os vidros da cozinha.
Esse foi o primeiro sinal. e fui aproveitando, pensei "se estou sem energia, estou deprimida; se estou com energia, estou maníaca". Resolvi ver o resultado. A terapeuta percebeu e me alertou, achei que fosse cedo, que talvez eu voltasse a dormir. Mas minha cabeça não  parava, na mesma velocidade do meu corpo. Não sei como arrumei tanta coisa para fazer. Fiz compras de coisas repetidas, entrei em discussões desnecessárias por motivos fúteis (disso não me arrependo muito, aproveitei o momento e fiz o que estava há tempos com vontade); enfim, teve o lado muito bom, mas as consequências não foram boas. Fiquei agressiva na direção, impulsiva ; e falo demais, o que não combina nada comigo, não me sinto bem. Na outra sessão , a psicóloga sugeriu que eu falasse com a psiquiatra, porque achou que eu piorei, estava mais exaltada. Então escrevi uma mensagem e ela viu que eu estava eufórica e retirou um antidepressivo. Aos poucos, fui acalmando, os pensamentos ainda muito rápidos, mas o corpo começou a cansar. Ainda não durmo o suficiente, e isso é determinante no meu comportamento. Hoje tive consulta e algumas doses foram alteradas, o lítio foi diminuído por estar alto e a quetiapina foi introduzida para melhorar o sono. Não entendo porque não consigo falar tudo, minha dificuldade de confiar nas pessoas. Ela é minha médica há três anos, preciso falar tudo para meu próprio bem. Mas dei um grande passo, escrevi uma mensagem daquilo que ficou engasgado.
Só quero que passe essas festas de final de ano, elas me perturbam, me deixam nervosa. Não é que eu não goste das datas, eu não gosto é do preparo, das expectativas, da ideia de que tudo vai mudar, de ter que ter planos. Essa pergunta hoje me deixou desequilibrada. Eu tenho um plano e só pensei, não consegui verbalizar. No momento ele não é bom. Minha mente está ocupada com muitas coisas do passado e não consigo visualizar um futuro.






sexta-feira, 28 de outubro de 2016



AH TÁ!!
Cada conselho. Melhor ficar calado.
Um abraço ajuda mais.



PARA AS PESSOAS QUE NÃO AGREGAM NADA. FÚTEIS.
Gatos transmitem uma energia positiva e são verdadeiros, se te procuram, é porque realmente fazem questão da tua companhia. São independentes e nada sociáveis.
Sou verdadeira, não sei ser alguém que não sou. não gosto muito de pessoas. Por isso adoro gatos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

100%

Perícias e perícias. Não estou mais conseguindo suportar.
Sempre as mesmas perguntas, "há quanto tempo está afastada?", "se sente melhor?", "está depressiva ou eufórica?". Sei que eles devem desempenhar esse papel, mas o fato que é muito cansativo para mim.
Tem dias que me sinto melhor, claro. Acho muito taxativo dizer "hoje estou eufórica", "hoje estou depressiva", não é assim. sei que sou leiga, não sou médica, sei explicar isso, acredito que falta empatia e sensibilidade nesses peritos.
O que acontece é que estou afastada desde agosto do ano passado. Fiquei muito mal, acho que cheguei ao extremo, fui devidamente medicada e amparada e posso afirmar que o processo foi lento e gradual, que eu estava desesperançosa, sem energia e sem acreditar que aquela situação poderia ter volta.
Mas de alguns meses para cá, muito lentamente, estou sentindo melhora, que vem aos poucos, uma vontade de sair, de ler, de arrumar a casa, conversar com a família; voltei a estudar, as coisas estão mais coloridas, antes só enxergava o cinza. Parece pouco e rotineiro, mas é muito importante para mim sentir isso de novo.
Então na última visita aos meus médicos peritos, fui informada que não haverá próxima perícia, pois serei aposentada. De imediato, levei um choque, fui embora e resolvi voltar. Não posso acreditar que uma vida profissional seja vista dessa maneira, "se não está servindo, saia" e de forma brusca, sem dar tempo de assimilar. Tive um chilique, vim para casa e na próxima sei que não vai ter volta.
Mas para minha surpresa, ouvi do psiquiatra do município, que se eu quisesse reverter essa situação, eu deveria levar um laudo da minha médica onde deveria constar a afirmação de que estou melhor, apta 100% para o trabalho. Inacreditável!!! Dessa vez não fui embora. Perguntei quem ali estava 100% para alguma coisa, que isso é impossível. Então disseram que realmente eu estou descontrolada e não posso retornar.
Tudo bem. Tenho uma médica compreensiva e competente, que  elaborou um laudo com veracidade e que agora vou ter o prazer de entregar, de forma íntegra e correta, sem passar por cima dos meus valores e de tudo que já conquistei, respeitando a progressão da minha doença e sabendo valorizar a tão esperada melhora e sobretudo sem arriscar o que consegui superar até aqui.
Vou me aposentar? Vou. Não sei o que vou fazer amanhã, depois, ano que vem. O fato é que agora vou fazer o que não conseguia há algum tempo atrás, o que não acreditava. Hoje sei que quero viver, porque reencontrei aquilo que me dá vontade de viver.
Muitas coisas mudaram, até mesmo a forma de pensar sobre alguns assuntos, meu posicionamento, sinto liberdade para escolher o que quero, estou aprendendo a dizer não, e arrisco dizer que até a minha profissão poderá mudar.
Só peço uma coisa: eu nunca quero ser 100%, é muita hipocrisia e falta de bom senso. Nem mesmo nos meus piores momentos eu almejei isso. Somos humanos, temos falhas, pensamos, podemos estar no ambiente de trabalho e lembrar que deixamos o filho doente em casa. Falta humildade , saber renunciar, aceitar que quando não dá mais, temos que mudar. Enfim, 100% . Eu ainda não acredito que ouvi isso.

domingo, 31 de julho de 2016

Feliz é aquele que não é infeliz

" (...) E por essa razão, é muito comum na história do pensamento que se fale em busca da felicidade. Havendo busca, é porque ela ainda não está; permanecendo a busca, é porque ela continua não      estando; consagrando-se a busca, é porque, talvez, ela não apareça nunca."


Clóvis de Barros Filho, "Felicidade ou Morte".


Após outra crise depressiva, vou tentar organizar as ideias e escrever de novo. Estou me sentindo bem, porque iniciei a leitura de livros, gostaria de começar um, terminar; mas inicio alguns, às vezes não termino nenhum e às vezes termino.
Esse livro que mencionei é dos autores Clóvis de Barros Filho e Leandro Karnal, ilustres escritores , o primeiro voltado a uma visão filosófica da vida como um todo e o segundo com uma base histórica, remetendo ao pensamento filosófico.
Tenho um pouco de dificuldade para ler e entender, resquícios dessas repetitivas depressões. Mas estou satisfeita pela tentativa e apreciando muito esse livro que leva a refletir sobre a felicidade.
Acho que não existe conceito de felicidade, nem procurei no dicionário. Qual o significado da felicidade? O que você faz com a felicidade? Como manter a felicidade? Como alcançar a felicidade? Será que é tão necessário pensar sempre em ser feliz?
Não sei. Só sei que nunca fui infeliz. E então identifico outra palavra que não acho o conceito.
Para mim, isso é muito individual.
Porque não sou e nunca fui infeliz? Para mim, infelicidade é não ter o básico para viver dignamente. não falo em sobreviver, falo em viver. Penso que não passamos por essa vida para sobrevivermos. Queremos viver.

Dicionário informal. Significado de viver.
Ter vida ou existência, existir. Ter (um ser vivo) um dado habitat. Portar-se, proceder. Durar, conservar-se. (verbo intransitivo)
Alimentar-se de, nutrir-se de. residir, habitar. Ter vida em comum. Experimentar (sentimento, emoção). (verbo transitivo).


Tenho vida, tenho onde morar, o que comer, o que vestir e com quem dividir minhas experiências.
Eu vivo de forma digna, não sou infeliz. No meu conceito, não sou infeliz.
Todos passam por situações difíceis, conflituosas, tristes, desesperadoras, sofridas, onde achamos que não haverá saída. Isso gera muito sofrimento, consequentemente fico triste, mas não infeliz. E se estou triste, não significa que não sou feliz. Sou feliz conforme a minha visão da felicidade. Sou feliz nos momentos simples, sou feliz quando tenho a liberdade de fazer o que quero e o que preciso, sou feliz com minha família, com meus animais, com meus amigos, mas fico triste. E o que me provoca tristeza só eu posso sentir, porque a tristeza para mim, pode ser completamente diferente para outra pessoa.


Então, fico feliz por ter a convicção de nunca ter sido infeliz, tomara que eu nunca seja infeliz, e saber que então sou feliz só me traz mais felicidade.
Então cheguei ao meu conceito. Feliz é aquele que não é infeliz.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

"Quando vier a primavera"

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que
na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.


Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem
importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois
de amanhã.
S e esse é o seu tempo, quando havia ela
de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que
eu não gostasse. Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.


Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem podem dançar e cantar à roda dela.
Não tenho preferências para quando já não pude
ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


(Poemas Inconjuntos, heterônimo de Fernando Pessoa)




Já plantei uma árvore, já tive filhas, ainda não escrevi um livro, já cuidei da minha mãe até o fim, preservo uma união de 22 anos, sendo totalmente leal e sincera, cuido de vários animais. A realidade não precisa de mim. Eu não preciso de mim. As coisas são como são. Pode chover, nascer, morrer, viver, adoecer, ficar triste, ficar feliz, tudo está no seu tempo. Tudo.
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo. Tudo é real, mas não há como ter a certeza de tudo.
Mas se eu morrer agora, estarei contente. As coisas foram como teriam que ser. Não há como mudar a finitude de tudo. É assim e é assim.
E as preferências já não existem mais, ou nunca foram preferências nem escolhas. Foram o que estava ali.
O que for, quando for, é que será o que é.
E eu quero ter a consciência e a plenitude de saber quando for. De expor minhas vontades e que as pessoas não tenham preferências, mas que eu tenha escolhas e cabe a mim decidir. Porque cada um sente da sua maneira como ir e vir, quando ir e vir. Por favor, ninguém faça isso por mim.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Tive um luto mal elaborado. Cheguei a essa conclusão há alguns meses. E isso com certeza colaborou para a intensificação dos meus sintomas da bipolaridade.
Minha mãe teve o diagnóstico da doença em novembro de 2010. Ela tinha câncer de endométrio. Fez cirurgia, quimioterapia, radioterapia, braquiterapia; passou por várias intervenções, várias internações, entre uma sessão e outra. Ela ficava muito debilitada. Em nenhum momento, até então, eu pensava que ela iria morrer. Acreditei fielmente na sua cura e no seu restabelecimento, podendo voltar a viver com algumas limitações, pois a doença a deixou muito fragilizada, mas voltando a viver.
Em dezembro de 2011, foi concluído esse tratamento. Mas ela sentiu fortes dores abdominais, teve que fazer novos exames e então foram constatados três tumores no fígado, sem condições de operação. Voltamos ao hospital, ela foi internada para iniciar um novo ciclo de quimioterapia. Nesse momento, comecei a duvidar. Falei para o médico que ela não aguentaria. Ele disse para persistir e acreditar. Não acompanhei a primeira sessão, ela estava internada, passei todos os dias com ela, mas esse dia eu sabia que as coisas não iriam dar certo.
Ela passou quatro meses internada antes da sua morte, ocorrida em julho de 2012. Fizemos todo o possível para que ela ficasse confortável e sem dor. Ela teve AVC, convulsão, ficou demente nos últimos dois meses, foi tudo muito sofrido. No último mês eu entendi que minha mãe ia morrer. Eu percebi pelas atitudes das enfermeiras, pelo estado dela que só piorava, pela falta de opções, eu não quis que deslocassem ela para outro hospital para fazerem um exame e ver se tinha câncer no cérebro. Eu entendi que isso não faria diferença, o tratamento seria o mesmo e eu não queria que minha mãe cumprisse um protocolo, um item a mais na sua lista de enfermidades. Não fazia diferença. Acho que a partir desse dia eu comecei a enterrar a minha mãe, eu vi que não tinha mais mãe, ela não falava, só ficava medicada com morfina, mal abria os olhos, ela já não vivia.
Uma semana antes de seu falecimento, a médica veio falar comigo. A mãe ainda tinha muita dor, apesar da morfina. Então a médica sugeriu que o aparelho ficasse ligado todo o tempo, com a dose máxima de morfina e me alertou que a mãe não iria mais acordar, podendo permanecer assim até dez dias. Tomei a decisão sozinha, não falei para ninguém, só expliquei depois. Nesse dia perdi minha mãe. Fiquei órfã. Não a vi mais. Só toquei e falei poucas palavras. O essencial falei enquanto ela ainda estava consciente. Ela ficou sete dias assim. Já estava tudo providenciado, velório, enterro, capela. Esse foi meu primeiro grande erro. Não deveria ter ido junto providenciar essas questões, minha mãe ainda respirava e compramos seu caixão.
Após toda a cerimônia, cheguei em casa, tomei um banho e fui lavar roupa, arrumar coisas, estava tudo jogado. Lavei inclusive a coberta que ela usava no hospital, não queria mais sentir aquele cheiro.
No domingo, fizemos um almoço com meu pai, minha sobrinha, eu me sentia com muita energia e não parava. Na segunda viajei com meu pai para o interior. Na terça providenciei minha licença de sete dias devido a perda da mãe. No resto da semana limpei guarda roupas, armários, levei e busquei as meninas no colégio, fui ao mercado, não parei. No sábado, dia quatro de agosto, foi a missa de sétimo dia, não chorei, não voltei para casa, fui no shopping. Fiz muitas compras, fiquei muito tempo andando, voltei detardinha para casa. No domingo planejei aulas e na segunda retornei para sala de aula.
Meu Deus!!!! Tudo errado. As pessoas querem ajudar, mas ajudariam muito mais com solidariedade. Ninguém é obrigado a saber como lidar com enlutados, mas eu aprendi o que não fazer e dizer para pessoas de luto.
Primeiro, temos que nos permitir viver o luto, seja chorando, dormindo, conversando, saindo, mas não negando.
"Sua mãe estava muito doente, acabou o sofrimento"; "É a lei da vida, os pais morrem antes",  "Ela está bem", "Você tem que seguir sua vida", "Temos coisas para fazer", "Tu tens uma família linda e filhas que precisam de ti". Não costumo escrever assim, mas "Vão à merda!!!!"
Era minha mãe, ninguém quer que a mãe morra, por mais que esteja sofrendo, porque, sim, somos egoístas. É a lei da vida??? quem disse? Você é Deus para dizer quem vai primeiro?? Que lei é essa?
Ela está bem. Essa é a pior de ouvir. Como assim?? Tu já foi e voltou?? Não esquecendo que o enlutado, na maioria das vezes, está descrente e sem falar que nesses momentos não se coloca a religião como justificativa. Seguir a vida? agora? Eu quero conversar, se eu falar sobre a morte e a doença, basta ao amigo ouvir, deixar colocar para fora, e quem sabe, um abraço. Só. Sem tentar "consolar", com crenças pessoais e palavras decoradas. Sim, tenho uma família maravilhosa, mas essa hora é minha, sou eu quem preciso de cuidados, sou eu que preciso chorar no momento e na hora que eu precisar, e não ficar escondendo da minha família.
Enfim, consegui identificar várias situações prejudiciais, que eu não me permiti expressar no momento certo, mas que hoje consigo externalizar e me fez muito bem.
Minha mãe sabe e sempre soube da imensidão do meu amor por ela, do quanto lutei com ela, do quanto a admiro e que tudo isso não passou de uma negação, por ter perdido o amor mais nobre da minha vida, a pessoa que me conduziu ao bom caminho, firme na educação, emotiva, mas sem muita demonstração de carinho, esse era visto na sua bondade e no seu coração. Movida pela fé, cumpriu com êxito sua jornada. Sou humilde o suficiente para afirmar que não sei onde ela está, ao mesmo tempo, sei que ela está ao meu lado, pois sinto sua presença e seu olhar.
Mães deveriam ser eternas. Pais também. Todas as pessoas que amamos deveriam ser. Não queremos perder ninguém. Não adianta dizer que é a maior certeza da vida. Não estamos preparados, cada pessoa reage de uma forma, mesmo se a morte for prevista. Eu entendo a morte da minha mãe, mas não aceito. Seria mais fácil, mas meu coração enrijece cada vez que penso: "tudo bem, era a hora dela".
Dia 28 de julho completa quatro anos de sua partida. Agora que estou entendendo um pouco melhor o que aconteceu. A dor amenizou. A saudade aumenta a cada dia. "O tempo é o melhor remédio". Acho que não, o tempo não apaga nada, ele suaviza. E só.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Vergonha alheia

Só tenho uma irmã, diagnosticada com bipolaridade também. Ela é oito anos mais velha que eu, não vivemos muito tempo juntas, ela casou com 18 anos e eu tinha 11 anos e fiquei morando com meus pais. Tenho afeto por ela, vivemos coisas lindas juntas, mas não consigo mais conviver com ela. Cada evento que vamos juntas, fico com mais raiva dela e com menos vontade de estar com ela.
 Minha irmã me dá vergonha alheia. Ela deveria se tratar, é uma boa pessoa, do bem, mas quando ela excede na bebida, fica insuportável. Sábado foi aniversário da minha filha, uma noite para comemorarmos os 22 anos de uma menina linda. E ela encheu a cara, literalmente. Teve um comportamento sexual ousado, faltou o respeito com meu genro, falou alto com os garçons, queria dar comida na boca dos convidados, enfim; passei o domingo de cama, não sei lidar com isso.
Queria tanto ter uma irmã para conversar, ser minha confidente, compartilhar vivências, me apoiar, sair comigo. Não temos mais mãe, poderíamos estar mais unidas e nos ajudando. Até no velório da mãe ela se comportou mal. Ficamos sem nos falar por um bom tempo depois. Ela não ajudou nos cuidados com a mãe. Ela só perturbou.
Então eu pergunto: é influência do ambiente? é genético?
Acho que é uma junção, mas eu queria uma explicação médica que também soubesse avaliar a personalidade, o comportamento, porque eu não consigo conceber que minha irmã fica tão mal assim só pela bipolaridade.
Ela me faz mal, ela me adoece, ela acaba com minhas festas. Ela é minha irmã e tenho que abrir mão dela. Ela é minha vergonha. Ela é uma vergonha alheia.

Queria ouvir só coisas boas

Impressionante que o tempo vai passando e minha bipolaridade se confirmando.
No post anterior estava ansiosa pela consulta e comentei que tomaria a medicação necessária para a recuperação, sem hesitar.
Muito pacientemente a doutora me falou sobre a nova medicação que queria prescrever, eu pensei muito e pedi para ela para esperarmos para a próxima consulta e avaliar a necessidade.
Já me arrependi. Ela classificou o meu quadro como depressivo e eu sinto que a cada dia os sintomas se agravam. Mas estou tentando não ficar parada e ceder ao sono. Vou fazer o possível para, pelo menos, não piorar até a próxima consulta.
É a tristeza, o choro sem motivo, o sono em demasia, a falta de expectativa, a baixa autoestima e principalmente, a falta de energia.
Sei que isso se deve a um desequilíbrio a nível psiquiátrico, que a doutora está fazendo o possível para acertar a medicação, assim como também estou fazendo minha parte.
Mas as palavras tem o poder de ferir ou curar. Sempre dei muita importância as palavras. Também para as atitudes. Mas as palavras me tocam mais. Elas ficam "latejando" na minha cabeça, vem e voltam, penetram lá no meu interior e podem fazer bem ou mal.
Quando uma pessoa está de luto, depressiva, perdeu emprego, se divorciou, enfim; acontecimentos tristes e marcantes, o que ela precisa são palavras ou gestos singelos, breves ou um abraço no silêncio.
Estou sangrando por dentro. Mas não é o sangue que corre nas veias. É o sangue do machucado, da ferida que está aberta e não cicatriza. Talvez o tempo vai cicatrizar, mas não gosto muito dessas lamentações que dizem que o tempo cura tudo. Acho que não. O tempo ameniza, mas a cura tem que vir de dentro.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Altos e Baixos

Hoje meu pai veio me visitar, colocando abaixo todo pessimismo que tive em relação a sua cirurgia e a sua recuperação.
Ele está muito bem, disposto e enérgico.
Ele sempre foi assim. A cirurgia não mudou seu ânimo.
E eu? Quando fui assim? Quais os momentos, as fases, que me senti assim?
Todos os dias tento recordar, e percebo que sempre tive altos e baixos. Bem acentuados. Bem altos e bem baixos.
Quero alcançar o equilíbrio, está difícil. São muitas oscilações durante a semana, os dias.
Costumo ir nas consultas assiduamente, são prescritas as receitas e eu falo o necessário.
Mas dessa vez estou mais ansiosa, foi um mês muito turbulento, estou apostando na decisão da médica para que eu possa melhorar. Não tenho mais receio de medicação, não fico mais pensando duas semanas antes de iniciar o tratamento. Penso que preciso tomar e pronto. Não quero mais ficar ruim como no ano passado. Os efeitos colaterais das medicações nem se comparam ao sofrimento ocasionado por uma depressão severa.
Dessa vez estou identificando os sintomas e quero que eles diminuam e não se apossem de mim, me deixando paralisada.
Quero ter planos, um rumo, desfrutar de bons momentos. Por enquanto escolhi viver, então que seja de forma prazerosa.

sábado, 4 de junho de 2016

Quero minha fé de volta

Primeiro quero  registrar que não me oponho a qualquer tipo de religião, respeito a todas e como ouvi recentemente de uma senhora: "Deus está em todos os lugares".
Depois de muita insistência da minha filha, por várias semanas, meses, resolvi aceitar o convite e ir no culto com ela. Dessa vez fui de imediato, sem pensar em uma desculpa para eu mesma.
Preciso confessar que eu era uma pessoa que tinha fé, esperança, nunca deixei de acreditar em Deus, mas fiquei completamente decepcionada quando minha mãe morreu, eu sequer imaginava que isso podia acontecer, eu acreditava na sua recuperação, na cura da sua doença e me senti traída. Pode ser um pensamento primitivo, mas é difícil de elaborar e explicar , é espontâneo, não consigo acreditar que confiando em Deus tudo vai dar certo, acho que é só uma forma das pessoas sofrerem menos, porque o que está escrito acontecerá e pronto.
Mas fui ao culto também com a ideia de elaborar melhor isso, quero ficar menos pesarosa, quero dividir com Deus meus problemas e resgatar minha fé.
Então fui com o coração aberto. O pastor fez três leituras, confesso que às vezes, dependendo do título, nem presto atenção, mas esse me despertou curiosidade: "Jesus ressuscita o filho de uma viúva". Lucas 7:11-17.
 Pensei: "quanta tragédia"! dor imensurável. Toda perda  é trágica, mas essa mulher ficará sozinha, desamparada em uma época que mulheres não trabalhavam, dependiam exclusivamente de seus maridos e ainda perdeu o único filho. Fiquei abalada. Mas eis que Jesus, acompanhando o cortejo, chegou diante do caixão e fez o corpo do jovem ressuscitar. A mulher ficou envolvida por uma alegria imensa, sua vida mudou repentinamente para melhor e ela pode ter de volta a esperança...Jesus trouxe de volta a vida do filho e a vida da mãe.
 Achei fascinante o fato de Jesus ressuscitar o jovem, mas fiquei muito mais emocionada por ele ter trazido de volta a esperança de uma pessoa. Viver com desesperança é uma dor muito grande, não há horizontes, não tem planos, não há visão de projetar um futuro, não se vê um futuro; enfim, não existem motivos para viver, E isso é muito triste.
É exatamente isso que quero de volta. Identifiquei um dos maiores motivos da minha dificuldade de conseguir viver melhor. Quero reencontrar a esperança, quero saber o que fazer aqui . Iniciei com a terapia, consequentemente parei na psiquiatria, sempre tive o apoio da família, e agora quero resgatar a religiosidade.
Pronto. É a união de tudo isso que acho que vai me trazer de volta. O autoconhecimento, a parte química equilibrada, o amor, que nunca faltou e a esperança que vai ser reconquistada.
Obrigada, minha filha, por não desistir de mim. Obrigada, meu marido, por estar sempre ao meu lado.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Para que diário?



" Se não quer ser esquecido quando morrer, deve escrever algo que valha a pena ler ou fazer alguma coisa sobre a qual vale a pena escrever."






Benjamin Franklin








Costumo colocar as citações no final, mas essa não é uma conclusão, é o início de uma reflexão.
Acho que não fiz algo que valha a pena escrever. Foi tudo simples e corriqueiro. Nenhum ato heroico, descoberta, ação benevolente. Talvez ter estado em uma sala de aula durante dez anos tenha sido uma ação caridosa com os alunos.
Tive uma infância tranquila, adorava estudar, poucos amigos, sempre mais sozinha.
Minha adolescência foi breve, algumas festas, reuniões na casa de amigos, poucos amigos.
Fui mãe aos dezenove anos, muitas dificuldades como no início de qualquer relação, ainda mais se tratando de dois jovens inexperientes.
Depois tive outra menina, uma situação mais confortável, retornei os estudos e me graduei em 2006.
Assumi o primeiro concurso que fiz, talvez me arrependa por isso, pois não tentei outras coisas.
Enquanto atuei como professora fui dedicada e comprometida. A sala de aula é um laboratório, aprendi muito com as crianças, elas tem muitas riquezas para nos apresentar.
Então estou em licença e me questiono o que quero fazer.
Devo tentar a sala de aula de novo? Trabalho em escola? Mudo de profissão?
Independente da escolha, acho que não vou fazer alguma coisa sobre a qual vale a pena escrever.
Não tenho muitas expectativas, não vislumbro um horizonte promissor.
Acomodada? com medo? Incompreendida? Revoltada? Sinto tudo isso.
Mas sinto muito por ter acabado com meus diários que datavam desde 1984. Talvez neles pudesse achar algo interessante, que eu tivesse esquecido. Não escrevo em diário desde o ano passado. Foram 31 anos de escrita, diariamente. Não quero mais escrever o que se passa, pensar sobre isso e ainda deixar registrado. Resolvi jogar tudo fora. Acho que aos poucos, estou acabando com a minha tediosa história.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Feriado

Então é feriado. Para mim, nada demais. Visto que estou perdendo a energia e cada dia está pior, pensei que o feriado poderia ser bom, pois as pessoas estão em casa e posso tentar me interessar por alguma atividade. Mas não.
Me estresso. Estou sinalizando que preciso conversar, que estou ficando ruim, e o que tenho é a ausência. Todos os programas são legais. Há o convite para que eu participe, mas nenhum é do meu estilo. Jogo, corrida. Acho que queria coisa bem simples, acho até que ia ter disposição. Ir caminhar, tomar café em uma cafeteria, fazer compras para um almoço especial, nada muito demorado ou elaborado, mas que pudesse sair um pouco da minha rotina e ver se consigo me reanimar.
Então o que basta para quem já não quer sair da cama é continuar na cama. Não tenho vontade nem de ver TV, ouvir música. Se eu ficar só deitada, dormindo ou não, está bom.
Acho que preciso de companhia. Só para um chimarrão, um seriado na TV.
É triste sentir que a depressão está se aproximando, eu já tive, sei o quanto é horrível. Eu não vou aguentar e as pessoas ao meu redor não são obrigadas a suportar. É difícil para quem está com a depressão e para as pessoas que convivem. Sei que fico chata, mau humorada, isolada; mas sei também que o que mais preciso é companhia e compreensão. Mas não posso pedir. Nem eu entendo, como os outros vão entender? É tudo muito abstrato.
Ao mesmo tempo que estou sem forças, estou estourando. Grande merda de feriado e final de semana. Queria minha vida de volta. Só isso. Queria voltar alguns anos no tempo.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Perdendo a energia

Estou quase parando. Há alguns dias, aproximadamente uns quinze, sinto minha energia baixando gradualmente. Começou dormindo um pouco mais, agora durmo bem mais, deito mais cedo e de tarde tenho que fazer um esforço para não dormir. Fico na sala, tento ler e escrever, olhar TV, mas é um cansaço muito grande, com dor no corpo e uma sensação de vazio.
Sensação de que não vale a pena levantar desse jeito, parece que tenho que dormir o quanto tenho vontade para ver se me recupero.
Me sinto doente porque não consigo fazer as coisas  como antes, com a mesma energia, agilidade e presteza. Faço por obrigação e me arrastando.
Não sei qual o motivo que me deixou assim e pelo qual estou me afundando, mas sei o quanto é difícil sair desse poço.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

"Viver" em sociedade

Viver em sociedade. Necessário e vital. Inevitável. Temos que seguir padrões e nos comportar conforme o lugar que estamos. Desgastante. Mas desde pequenos temos que aprender a nos comportar, são impostos limites e acho extremamente necessário. Quem aguenta criança birrenta e fazendo fiasco em mercados, restaurantes, shoppings? Não é "falta de laço", é falta de limites e os responsáveis são os pais ou cuidadores.
E a sociedade nos cobra atitudes, ás vezes de forma sutil e silenciosa, mas ela está ali, esperando um resultado.
Há aproximadamente oito meses estou em licença saude. Durante esse tempo, várias vezes pensei sobre o que quero realmente seguir na minha vida profissional. Ainda não sei. Mas tenho uma certeza, que já descarta muitas opções. Não quero mais trabalhar na área da educação. Pronto. Foi difícil definir isso, estudei bastante, dediquei tempo e dinheiro, abri mão de várias coisas, mas durante o tempo que exerci minha profissão, fiz com amor e dedicação. Não imaginei que iria exercer outro ofício, sair da sala de aula; mas muitas coisas mudaram, eu não sabia que teria tantas coisas para me adaptar.
Então, isso já é difícil de ser elaborado comigo mesma, com todos meus medos e dúvidas. Medo de retornar e ter uma recaída, não saber lidar com as questões do dia a dia e dúvidas sobre o que fazer, no  que trabalhar.
Aí vem a tormenta da sociedade, para acrescentar mais estresse.
 Hoje uma amiga me chamou para conversar, foi casual, falamos sobre filhos e logo veio o questionamento: "quando vai ter alta da tua psiquiatra?". Nossa, eu queria tanto saber responder essa pergunta. Acho que não é uma coisa determinada. Daqui 50 dias você vai ter alta. é algo que tem que ser trabalhado e conversado, temos que entrar em um acordo. Minha psiquiatra e quem vai conduzir essa decisão.  O que está em jogo agora é minha recuperação, porque colocaria tudo a perder? Porque tenho que voltar a trabalhar??? Sou obrigada? "Ah, mas você não pode parar por aí, é muito nova, estudou bastante, e tal". A intenção pode ter sido boa, porém ela verbalizou o que eu sei que todos  perguntam. Quando vai voltar a trabalhar?
Vontade de deixar fluir minha irritabilidade e dizer a verdade. Que nao tem prazo estipulado, que vou voltar quando me sentir preparada para isso, e quando essa decisao for benéfica para minha recuperação. E se algum dia eu tiver que te pedir dinheiro emprestado você me faz essa pergunta de novo. Bem assim. Porque não consigo ser direta ? Fiquei falando que ia ver uma readaptação, mas não sabia onde, talvez daqui dois meses. Mas porque isso? É inconcebível uma mulher de 40 anos, com ensino superior, ser bela , recatada e do lar? Bando de feministas.
Quero voltar, não quero voltar, quero me arrumar e sair de casa, não quero me arrumar, quero ver pessoas, não quero ver. Quero mudar de profissão. Sem prazo definido. Quero ser feliz. Hoje.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Medicação

Durante um mês fiquei envolvida com o tratamento do meu pai, ainda temos a fase da recuperação, mas acredito que não será tão tensa quanto os exames e a cirurgia.
O fato é que ninguém está preparado para ver um familiar passando por exames e procedimentos invasivos. Dá medo, insegurança, o pessimismo tomou conta de mim, não consigo mais acreditar que tudo vai dar certo e que há cura para doenças graves. Também não consigo conceber que tudo está nas mãos de Deus. Seria mais fácil, mas não consigo.
Diante desse quadro turbulento, teve dias que esqueci de tomar a medicação, teve dias que não quis tomar a medicação e teve dias que tive receio de tomar a medicação e dormir a noite toda e não despertar para um possível telefonema do hospital.
E a conclusão foi triste. Não posso ficar sem a medicação. Tenho que tomar regularmente, no mesmo horário, prezar uma noite de sono tranquila, me alimentar nas horas certas, enfim; tudo o que já foi dito e feito por um tempo.
Mas esse quadro também foi oportuno para mim. Tenho curiosidade, acho que como todos bipolares, de experimentar ficar um tempo sem medicação e ver quem eu sou, quem eu  era antes disso tudo. Tenho comportamentos e atitudes que nao sei se são meus ou são efeitos da medicação. O que é determinado pela doença? O que é minha personalidade? Será mesmo que preciso me dopar de remédios psiquiátricos para poder viver conforme as regras da sociedade? Essa dúvida está me acompanhando há alguns dias.
Fiz a comparação. Quando estava com o tratamento correto, meu sono foi melhor, meus dias mais tranquilos; mas fico mais lerda, parece que tenho um distanciamento dos sentimentos, não sinto emoção e não tenho vontade de conviver com as pessoas.
Sem o tratamento, fico mais agitada, com mais energia, os pensamentos fluem, tenho mais ideias; mas fico muito irritada com tudo. Uma irritação que dá palpitação e que tenho que respirar fundo para controlar.
Tudo tem o lado bom e o ruim. No geral, seguindo tudo corretamente, passo os dias alternando o meu comportamento. Acordo bem ou não, depois posso piorar, posso fazer muitas coisas ou fazer nada, tenho vontade de sair, comprar, ou não quero ver as pessoas. Essa oscilação leva ao desgaste.
A conclusão é que acho que nunca estive estabilizada. Tive momentos menos intensos, com mais tranquilidade.
Todos tem dias bons, dias ruins, de tarde está bem, de manhã está de mau humor. Mas na pessoa bipolar isso é muito intenso, é desgastante, cansa, as coisas são muito positivas ou muito negativas.
Tenho muita coisa para passar ainda, leio muito sobre o assunto, mas infelizmente aprendo mais com a prática, com meu dia a dia.
Queria entender se os problemas emocionais desencadearam o transtorno bipolar ou o transtorno bipolar provocou problemas emocionais?
Quando começou isso tudo?

terça-feira, 3 de maio de 2016

Meu pai

Não consegui mais escrever. Meu pai estava doente.
Passei dias tumultuados, de grande ansiedade e sem esperança em relação ao quadro.
O nome é grande: lesão severa no tronco da coronária esquerda. Não entendi muito bem a explicação do médico sobre as artérias, as placas de gordura, mas entendi muito bem que o caso é gravíssimo, foi assim que ele falou. Ficamos impactados. Meu pai é um homem muito ativo, tem uma alimentação equilibrada, não bebe, não fuma; é inaceitável.
Diante disso, o médico nos deu duas alternativas: poderia ser feito um procedimento mais rápido, mas que teria uma sobrevida pequena (colocação de stent) ou passaria por uma cirurgia invasiva, sendo colocada ponte de safena. Pensei que poderíamos discutir sobre isso e falar na próxima consulta, mas a internação foi imediata e a decisão do meu pai também: "eu quero fazer a cirurgia porque quero viver muito". Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Eu acho que não faria nem uma coisa nem outra.
Ele ficou na emergência três dias antes de ser operado, não foi prescrito sedativo ou ansiolítico, e quando questionei o médico, ele me respondeu: "teu pai dorme a noite toda e está confiante na cirurgia."
Quantas lições eu tive nesses dias, quantas reflexões. E vi que o meu amor por ele é maior do que eu imaginava, que dependo dele e que ele depende de mim, que somos amigos, parceiros e cúmplices, na alegria e na tristeza.
 Passamos momentos horríveis durante a doença da minha mãe, que veio a falecer. E esses momentos fortaleceram nossa relação. Meu pai foi meu porto seguro, sem ele eu não teria suportado a dificuldade que enfrentamos durante o tratamento da minha mãe.
 Hoje é ele quem necessita de cuidados especiais, a recuperação vai ser lenta e eu sei que o melhor que posso oferecer para ele é o meu amor e a minha disponibilidade. Sim, eu vou fazer o que for possível para ele melhorar e voltar a tocar a campainha aqui de casa com uma sacola cheia de doces, repleto de histórias para contar e com uma disposição invejável.
 Algumas pessoas se referem ao pai como exemplo de força, coragem e fé. Eu posso afirmar que meu pai me deu o maior exemplo de coragem, força e fé. Percebi nos olhos dele, no jeito firme de tomar uma decisão tão difícil e no aperto de mão que ele deu ao médico e aos enfermeiros quando entrou no bloco cirúrgico. Eu tive vontade de chorar e ele entrou sorrindo.
 Escrevi no início"meu pai estava doente."Acho que não estava. Ele está cheio de vida. Forte e firme. Fortalecido na fé. E pronto para muitos anos de vida. E eu, muito feliz. Há tempos não sentia tanta felicidade.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Incerteza



 
 
Tempo de aceitar.
Tempo de voar.
Tempo de descansar.
Tempo de realizar.

O tempo de cada um

Piegas, mas reflexivo.

Há tempo de plantar e de colher;
tempo de amar e de odiar,
tempo de sorrir e de chorar,
tempo de apegar e desapegar,
tempo de fé e desesperança,
tempo de ganhar e de perder,
tempo de lucros e prejuízos,
tempo de paz e brigas,
tempo de chegadas e despedidas,
tempos alegres e tempos tristes,
tempo de ir e de voltar,


Como pensamos nesse tempo? Como usufruimos desse tempo? Que importância damos a cada passagem? Que certeza temos que vamos ganhar e perder, sorrir e chorar?
É tudo muito incerto.

Só há uma certeza: tempo de nascer e de morrer.


"Há para todas as coisas um tempo determinado por Deus."
Eclesiastes 3

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Que diferença faz?

Hoje, inesperadamente, a partir de uma conversa informal, escutei essa frase que ficou latejando na minha cabeça: "Que diferença faz?"
Sei que a intençao de quem a pronunciou não foi me magoar ou ativar alguns pensamentos ruins que venho carregando há alguns dias. Mas, para uma pessoa bipolar ainda não estabilizada, essa frase despertou sentimentos negativos.

Tendo base nas minhas leituras, a maioria faço na internet, ( onde há fontes não confiáveis ), pude constatar na maioria dos sites que falam sobre ideação suicida, a presença de quatro sentimentos principais na ideação, os  4 D : Depressão, Desesperança, Desamparo e Desespero.

Depressão: Sei bem o que é isso e quais os sintomas, atualmente vivo uma fase mista, onde se alternam os sintomas depressivos e os maníacos, mas já passei por um episódio depressivo maior;

Desesperança: está presente, ainda não visualizo um horizonte e ás vezes tenho esperança de ter planos e mudar tudo para melhor; e às vezes vejo que tudo permanecerá como está ou pode piorar. O negativismo em uma pessoa deprimida faz parte;

Desamparo: queria ter mais pessoas ao meu lado, queria ter "alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim". Sou antissocial. Mas  aí é outro assunto;

Desespero: Como não ficar desesperada diante de tudo isso?

Não querendo ser pretenciosa, até porque sou uma pessoa leiga no assunto, eu acrescentaria mais um D: Desvalorização. Uma pessoa com todas essas caracteríticas, naturalmente, se sente desvalorizada em todas as áreas.E então não vê motivos para que outras pessoas desfrutem momentos com ela.

Então posso mencionar a leitura que fiz sobre "Perfeccionismo Socialmente Prescrito", ou seja, a obrigação imposta pela sociedade, de que você seja produtivo, útil, que agregue algo nesse mundo capitalista.
Mas a maior cobrança parte de mim mesma, não estou satisfeita com meu desempenho, com meus fracassos ( quem está? ) e me vejo sem perspectivas para mudar. Desesperança. E diariamente penso nisso. Tem dias que consigo me distrair, ler, escrever, sair de casa, mas quando paro para pensar, vem sempre os mesmos pensamentos, que muitas vezes ficam desorganizados diante de tantas ideias infundadas ou descabidas.
Então, "Que diferença faz?", você estar aqui ou não estar?
Espero que o tempo seja longo para eu poder ter resposta para essa pergunta. E que seja generoso.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Bando de desocupados. #sqn




Pois é. Grande reflexão.
Hoje, conversando com uma amiga que estimo muito, perguntei se ela iria comparecer em uma reunião de ex alunos do Ensino Médio, que concluímos em 1992.
Não sou sociável, gostaria muito que ela fosse, somos amigas desde a infância e preservamos essa amizade. E, como acontecia na adolescência, "eu só vou, se você for". Então, cancelei a saída. Ela não pode e não quer ir. Entendi assim. Porque se quisesse, ela daria um jeito, eu conheço ela.
O fato é que participamos de um grupo no whatsapp em que conversamos sobre coisas que aconteceram nos tempos de colégio, falamos sobre nossas vidas depois de 25 anos, trocamos fotos das famílias que foram construídas, discutimos sobre emprego e até política. Eu gosto, acho saudável, não me sinto obrigada e quando estou a fim leio as mensagens e interajo.
Falando sobre isso, surgiram alguns assuntos curiosos que quis dividir com ela, e fui cortada prontamente: "esse pessoal do grupo são um bando de desocupados".
Foi forte.
Significado de desocupado (parece óbvio, mas é forte): que se conseguiu desocupar; que não conseguiu ocupação, sem trabalho; que não está ocupado; pessoa disponível.
Acontece que nos dias de hoje as pessoas não se permitem ter momentos de prazer, de ócio. Falar que está cheio de trabalho, que não tem tempo, é status. Soa bem. Pessoa ocupada, importante.
Parece fácil falar, eu sei, porque estou em licença. Mas procurei sempre ter um momento só meu. Poderia ser simples, mas eu estava desocupada.
Os pais querem ocupar os filhos desde cedo. Várias atividades extracurriculares. Não querem ou não sabem exercer o ofício de pais, ou "não tem tempo", é mais bonito falar assim.
Estou decepcionada com o rumo que as coisas estão tomando. Pessoas desesperadas, ocupadas demais, rumo ao sucesso, ao êxito, abrindo mão de amigos, de momentos simples, de pequenas alegrias. E assim adoecemos. Porque queremos demais e acabamos fazendo de menos o que realmente importa.
Acho triste.
 A vida exige que estejamos ocupados, mas a disponibilidade faz com que possamos ter mais qualidade de vida.
Mas o que é ter sucesso? Alcançar o sucesso? O sucesso de forma geral, em todas as áreas, pode ter vários conceitos. O que pode ser motivo de sucesso para uma pessoa, pode ser desprezível para outra.
Resumindo, na minha opinião, sucesso é saber usar o tempo que se tem para fazer alguma coisa: sair, trabalhar, namorar, conversar, conciliando tudo isso. Tempo. Dá para administrar, tem que querer e não arranjar uma desculpa;
Para encerrar:
" Para ter sucesso neste mundo, não basta ser estúpido, é preciso também ter boas maneiras. "
Voltaire

quinta-feira, 31 de março de 2016

Está tudo bem?

"Estão todos bem"é um filme que foi produzido em 2010, cujo ator principal é o Robert de Niro, que dedica sua vida para família. Depois que a esposa morre, ele não consegue mais reunir os filhos e então decide visitá-los e aí ele percebe que não está tudo bem.

Hoje seria o aniversário da minha mãe, ela faleceu há três anos. Não preciso mencionar que muita coisa mudou, a estrutura familiar, os finais de semana, tudo um pouco. Sem falar que ela era meu refúgio para tudo. Então eu penso: como eu estou? como ficou a família? Ela era o alicerce, a que conduzia, a que dava seu toque de magia nas reuniões e que fazia sempre estar tudo bem. Mesmo com problemas, como todos, ela conseguia de alguma forma, administrar tudo isso. Ao menos era minha impressão e isso me dava segurança para viver. Confiança e certeza de que as coisas vão dar certo.

Tento pensar que hoje está tudo bem. Tenho um marido que me apoia, duas filhas que amo e são motivo de orgulho, mas não está tudo bem. De maneira alguma posso dizer que tudo ficou assim porque perdi minha mãe. Não. As coisas foram acontecendo a partir desse pesaroso momento. E foram se intensificando e tomando proporções que eu não acreditava e desconhecia.

Hoje procuro ser essa sustentação na minha família, mas é muita pretensão. Porque eu não estou bem, não estou resolvida. Acho que minha mãe também , certamente, tinha vários problemas e não estava tudo bem. Aliás, tudo bem é muito amplo. Nunca está tudo bem. Mas o que eu admirava era essa habilidade dela saber lidar com isso e não deixar transparecer. Isso é bom e ruim. Ela deve ter sofrido com isso. Mas era o máximo de uma bondade.

"Estão todos bem" talvez seja melhor assim. Todos seguiram suas vidas, o tempo vai passando, a dor vai diminuindo e a saudade aumentando. Mas não está tudo bem.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Sobre o nome do blog

'Humor na Montanha Russa".  O que esse título nos faz pensar?
Em um primeiro momento, imaginamos um parque de diversões, com uma montanha russa divertida, bonita, com descidas e subidas, os altos e baixos. Então se compara ao Transtorno Bipolar, onde há a presença de dois pólos, um mais para o alto (fase maníaca) e um mais para baixo (fase depressiva).
Desde que fui diagnosticada com a doença, presto mais atençao nos sintomas e procuro saber identificar o que estou vivendo para que eu passe esse momento da forma mais amena.
As pessoas procuram o parque de diversões para se sentirem alegres. A montanha russa é um brinquedo que dá "um frio na barriga", e que tanto as descidas, quanto as subidas, são aguardadas com o objetivo de sentir prazer.
Então acho que não dá para comparar com o Transtorno Bipolar.
 Tenho vivenciado subidas e descidas muito rápidas, de uma semana para outra, de um dia para outro, que me deixam desanimadas e chateadas. É claro que a subida, a fase maníaca, é mais prazerosa, mas ela vem acompanhada de uma descida permeada de dor de cabeça, de arrependimento por ter exagerado em algumas coisas, por não ter ponderado certas situações, tentado resolver de forma imediata, por ter falado  demais, dormido pouco ; e isso compromete o senso crítico e o julgamento, ou na linguagem mais vulgar, "perdemos a razão".
E a descida é escura, vaga, não sabemos onde queremos ir , se queremos ir e muito menos onde vamos chegar.
Queria que fosse como a montanha russa, em que subimos e descemos com alegria, com um pouco de medo, mas com prazer. E lembrando que a montanha russa tem uma linha reta também, que nos permite respirar e nos preparar para as subidas e descidas.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Arrependimento x bipolaridade???

Hoje assistindo ao programa da Fátima Bernardes, acompanhei um tema que me despertou curiosidade. As pessoas da plateia receberam algumas placas e deveriam escrever nelas o que elas se arrependem. Tiveram várias respostas inusitadas, como "de ter ido ao cemitério", "de ter feito uma tatuagem", "quem tem que se arrepender é meu ex" e outras mais emotivas, que não me chamaram atenção.
A pergunta é: "do que você se arrepende?". Em um primeiro momento, algumas pessoas, que se acham detentoras da experiência da vida (me desculpe, mas essa é minha opinião), irão responder que não se arrependem de nada.
Eu posso afirmar que me arrependo de várias coisas, que seria cansativo enumerar, umas mais intensas que as outras. Mas a resposta que me veio a cabeça, de imediato, foi: "eu me arrependo de não ter falado".
Já comentei em outro post que prefiro ouvir. Isso não mudou. Mas hoje eu reflito sobre a necessidade de falar mais, dar minha opinião, dizer naaaaaaao!!!! Não gosto, não quero.
E a bipolaridade?? Sim, pode ser genética. Sim, pode se manifestar em um momento de maior vulnerabilidade, baixa auto estima, fragilidade com tudo, dor. Eu passei anos "baixando a cabeça", preferindo evitar o cansaço físico e mental. E quando passei pelo momento mais difícil da minha vida, que foi a perda da minha mãe, a depressão resolveu se apresentar. Não dei as boas vindas, resisti ao tratamento de imediato, as coisas foram piorando, os sintomas foram se intensificando, não tratei com seriedade os sintomas e o tratamento, até que cheguei ao extremo: psicótica-depressiva-maníaca-suicida. Bipolar.
Então, onde quero chegar. O fato de eu não ter expressado minhas emoções, meus sentimentos, propiciou o desenvolvimento do transtorno. Essa é só minha opinião reflexiva. Assim como o câncer, que pode estar inerte, e no momento de baixa imunidade, de grande estresse, ele vem à tona.
Mas estou muito satisfeita, porque percebo melhoras, um crescimento lento e gradual, uma mudança positiva, que está me direcionando a novos caminnhos e novas perspectivas. Vale ressaltar que o apoio da terapeuta e da psiquiatra foram fundamentais nessa decisão.
Porque é disso que precisamos na vida: objetivos. Preciso ter mais. Estou gostando.









terça-feira, 15 de março de 2016

Solidão bipolar

Isso que eu devo fazer.
Aprender a me olhar. Quem sabe, me aceitar.
Ontem passei um dia turbulento, acordei sem energia, sem ideias, pedindo para que o dia acabasse.
De tarde, de repente, resolvi sair. Olhei livros, lojas, fiz compras desnecessárias. Detardinha tive visita e foi muito bom conversar. Devo confessar que me sinto sozinha e às vezes não sei o que fazer com essa solidão.
Estou perplexa com esses "altos e baixos", talvez porque agora estou identificando esses extremos.
Hoje acordei calma, mas sem disposição. Percebi que mais um dia me aguarda. Sozinha com a minha solidão. Eu que tenho que dominar isso. Mas a irritabilidade logo se manifestou, quando as palavras da minha mãe soaram nos meus ouvidos"tudo que é demais faz mal".
 Está faltando equilíbrio nas ações das pessoas. E isso me afeta. O problema é meu, eu que tenho que administrar, mas sou humilde em admitir que precisaria de mais pessoas ao meu lado. Cada um tem sua vida, canaliza suas energias onde achar melhor, tem seus afazeres diários, e quem sou eu para sobrecarregar alguém. Vivi muito tempo sem dividir com ninguém o que eu passava, não será agora que vou fazer isso.
Porém, quero registrar que essa solidão, que por vezes pode ser muito produtiva; por outro lado é aquela que me afundou, aquela que compartilhei o pior momento da minha vida. E eu sempre gostei de ficar sozinha. Mas até isso é bipolar. É bom ficar sozinha, mas dá medo.
É bom quando leio um livro, escrevo, olho um filme, preparo a casa para esperar minha família, ouço música, me arrumo.
Dá medo quando os pensamentos ruins dominam, quando o silêncio fica muito alto, quando vem a desesperança e não há planos para o futuro. Basta pensar que nada tem sentido e é duvidoso continuar assim. Então dá raiva, taquicardia e vontade de tomar muitos remédios.
Sou bipolar. É isso.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quem é esse médico?

Então hoje foi o dia de ir no médico psiquiatra do município onde trabalho. Aquele que a "médica" da Junta me indicou.
Estava há dias pensando nessa consulta, afinal estaria sob o olhar de um outro psiquiatra, que não sabe nada da minha história, ou muito pouco, porque às vezes participa da Junta Médica.
Sou calada e tenho dificuldade de expressar verbalmente o que sinto, o que penso. Demoro bastante para relatar as coisas para os médicos, e essa avaliação era muito importante. Tenho que melhorar isso, saio das consultas com dúvidas, com coisas que gostaria de ter falado. Mas não falo.
Ontem fui pensando que eu tinha que falar tudo. Que eu não ia mais uma vez voltar com frases e pensamentos entalados. E porque não com uma pessoa desconhecida?
Entrei na sala em silêncio e esperei o questionário. Foi básico, respondi todas as perguntas de forma monossilábica. Até que ele perguntou quando iniciaram os sintomas e quando fui diagnosticada com Transtorno Bipolar. Pensei ou eu resumo, digo que faz cinco meses e saio logo daqui ou tento fazer o que nunca consigo. E eu consegui!! Ele teve que me ouvir. Inclusive, e eu estou pasma, eu "cortei"ele algumas vezes para não perder o raciocínio. Falei tudo que tive, desde sintomas, medicamentos, consegui lembrar. Ele comentou que não tinha ideia de tudo isso, que foi muito bom termos conversado e que o que aconteceu foi muito grave.
Para minha surpresa, se colocou à disposição e disse que o meu retorno será muito bem vindo após um tempo de estabilidade. E que vamos pensar juntos no melhor setor e cargo para eu trabalhar.
Eu estou muito aliviada. Tive uma experiência tão ruim com a "médica" e imaginei um monstro me atendendo. Sem compreensão, sem apoio, somente interessado no retorno. Mas fui surpreendida positivamente.
Esse médico é graduado em Medicina do Trabalho e atua no município há alguns anos. Realiza Perícia Médica no município e devido ao grande número de afastamentos de funcionários com quadros psiquiátricos, ele fez especialização em Psiquiatria, concluída em dezembro do último ano.
Acho que foi um ótimo investimento e seria muito bom se outros médicos também tivessem esse olhar.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Por que eles voltam?

Eles começaram de forma insidiosa. Aos poucos. Foram se desenvolvendo, tomando jeito, visualizando contexto ideal, se tornando a promessa do fim do sofrimento. Era só uma hipótese, uma alternativa inviável. Pensava e parava. Mas o quadro foi ficando mais grave, a dor aumentou.
Então surgiram várias ideias, pesquisas, a coragem ou o medo. Pensamento egoísta? talvez.
Depois de tentar o suicídio algumas vezes, devidamente medicada e com o apoio necessário, aos poucos eles foram indo embora.
Mas o que acontece agora? Eles não chegam vagarosamente, eles vem de repente. Sei que preciso ser mais tolerante com algumas coisas, mas esses extremos abalam muito. É tudo muito intenso.
Precisamos falar mais sobre isso.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Um dia de cada vez

Não tem como avaliar o que prejudica mais na rotina de uma pessoa bipolar.
No meu caso, a fase depressiva é bem intensa, quase paralisante, fico isolada, não tenho vontade de me alimentar, não sinto prazer, não tenho energia, os pensamentos são negativos em relação a tudo, há presença de ideias suicidas e uma falta de esperança. Não tem como planejar alguma coisa, as tarefas diárias são desgastantes.
Na outra fase, que não sei conceituar, fico agitada, não paro de pensar, tudo ao mesmo tempo, inicio as coisas e não termino, faço planos que depois percebo que são inviáveis.
Mas hoje não consigo nem expressar direito.
Acordei disposta, com ideias de coisas para fazer, e de repente, tudo perdeu o sentido, não tenho vontade de fazer nada e nem falar com ninguém.
Isso tem se repetido. Sei que todas as pessoas tem oscilações de humor, mas percebo que as minhas estão intensas. Está difícil conviver comigo mesma, não sei como vou estar no decorrer do dia.
Assim acontece com a leitura, a produção textual. Em determinado momento, as ideias fluem, consigo me concentrar na leitura, interpretar. E pode ser que, daqui a pouco, eu não consiga me concentrar e finalizar uma atividade.
Acompanhando esse cenário, tem a irritabilidade. Mínimas coisas me estressam. Tenho atitudes extremadas, não consigo controlar na hora e depois me sinto mal pelo que fiz.
E fico intolerante com barulhos. De qualquer tipo. Então vem o isolamento, a vontade ficar sem ouvir nada e falar com ninguém.
Acho pertinente estar em casa nessa fase, de controle dos sintomas e acerto da medicação. Consigo ficar quieta quando preciso, sair quando necessário e vivenciar meu cotidiano conforme minhas limitações.
Acredito que vou ficar estável, sei que devo cumprir todas as "regras", mas confesso que cansa.
Tem um desgaste muito grande e tem dias e horas que dá vontade de esquecer tudo isso, não fazer mais nada, mas nesse momento, a doença sinaliza que está ali e eu mostro para ela que eu sou maior. Pelo menos hoje.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quem é essa médica??

Gostaria de apresentar uma "médica".




Eu não gosto de falar. Prefiro ouvir e escrever.
Então preciso registrar o que aconteceu ontem durante mais uma perícia.
Passei pela Junta Médica, onde fui avaliada com olhares agressivos logo na entrada.
Esta médica nunca perguntou como me sinto, o que está acontecendo, mas ontem ela se superou.
Sentei e ela olhou minha pasta e comentou sobre os meus atestados psiquiátricos. Perguntou desde quando estava afastada e por quanto tempo eu imagino continuar. Como se existisse uma previsão.
“Trocou” o atestado, muito contrariada e falou para eu marcar uma consulta com o médico psiquiatra da cidade onde trabalho, porque ela acha que tenho condições de retornar.
Quem é ela para achar alguma coisa? Não me acompanha, não sabe de nada, mal olha para mim. Senti um poder abusivo da parte dela, senti também, humilhação.
Mas o pior foi o comentário na saída do consultório: "Eu, como médica do trabalho, já sugeri aqui no município, a inclusão de psicotécnico nos exames admissionais, para evitar esse tipo de problema". Tentei explicar, não sei porque sou tão idiota, que fui diagnosticada há cinco meses com Transtorno Bipolar e já estou há nove anos no município. Para finalizar, ela disse que os problemas já teriam aparecido no psicotécnico..
Problemas, problemas. As palavras tocam fundo. Me marcam muito. Sou um problema para o município, sou onerosa. Então, para que facilitar?? Vamos dificultar.Vamos rotular. Pacientes psiquiátricos precisam passar por avaliação individual. É tudo muito subjetivo. Tudo bem. Vou fazer a avaliação. E vou preparada para falar. Eles que estejam preparados para ouvir. Não quero ficar com vergonha, me sentir constrangida. Como sempre.
Não costumo chorar, nem quando estou deprimida. Mas ontem confesso que chorei, tive uma dor, uma vontade de voltar naquele consultório e "soltar o verbo". Estou cansada de ficar contida. As pessoas abusam.
Agora quero revelar a identidade dessa médica. Essa médica é a mesma que me atendeu quando tirei quinze dias de atestado para levar a minha mãe para fazer sessões de radioterapia, em 2011.
Essa médica é a mesma que me atendeu quando levei meu primeiro atestado de depressão, que foi logo após o falecimento da minha mãe.
Essa médica é a pessoa que fez um dos comentários mais dolorosos que já ouvi na vida. "Como você ficou depressiva se sua mãe estava com câncer. Não sabia que ela ia morrer?"
Eu a chamo de médica porque concluiu o curso de Medicina. Mas tenho certeza que alguns colegas devem se envergonhar de uma profissional assim. E como paciente, estou nas mãos dela.

Essa médica também perdeu a mãe recentemente. Ainda bem que ela se "controlou" para não ficar depressiva. Ou melhor, pessoas assim tem coração de pedra.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O ESTIGMA NÃO QUER CALAR porque ele fala.
Ele fala através do corpo, com gestos de repulsa, com olhares discriminatórios.
Ele fala através das palavras insensíveis, inapropriadas, estigmatizadas, irônicas.
Ele fala através da alma quando deixa transbordar todos os sentimentos que estão envoltos nele.
Mas eu queria que ele falasse com o coração. Mas, talvez, não seria mais estigma.
O ESTIGMA QUE NÃO QUER CALAR

Poucas pessoas sabem que sou portadora do Transtorno Bipolar e faço uso de medicação contínua. Poucas mesmo. Os profissionais de saúde, meu marido, minhas filhas e três amigas. Não sinto necessidade de falar porque acredito que não vai mudar nada e esse meu comportamento eu conceituo como estigma. Sim, ele inicia comigo, eu entendo o que tenho, leio sobre o assunto, não nego; mas ainda não aceito.
Faço esse preâmbulo para elucidar o que vem acontecendo comigo no meu trabalho. Sou funcionária pública. Estou afastada desde agosto do ano passado. Tenho consulta mensal com a psiquiatra, que prescreve medicamentos, e após avaliação, me libera ou não para o trabalho. Depois disso, encaminho o atestado no protocolo, passo por uma Junta Médica, que "troca" o atestado e faz alguns questionamentos referentes a minha doença.
Como essa situação já perdura há algum tempo, soube de comentários do tipo"só pode ter ficado louca, tanto tempo afastada"; "está simulando, ela não tem nada"; "talvez esteja com câncer";"trabalhar é bom, ela está com preguiça". Comentários feitos por "colegas" da escola.
Sei que é difícil entender, visualizar essa doença. Se eu estivesse machucada, sangrando, com gesso, as pessoas desprovidas de conhecimento entenderiam melhor. Mas é muito subjetivo. E talvez a minha imagem não transmita essa informação de pessoa depressiva.
No início do ano pensei sobre o retorno. Um novo ano letivo, nova turma, comecei a elaborar essa ideia, imaginar o que poderia acontecer, sei que tenho que tentar. Ainda não é o momento, quero estar preparada para isso. E tampouco ninguém está me cobrando essa decisão. Pretendo definir isso com minha médica, minha psicóloga e meu marido. Tenho muito medo de ter recaída.
Mas diante disso, que ambiente me espera? hostil, sem acolhimento, cínico, falso.
Não é só isso. Até mesmo as questões burocráticas. Percebo que estão fazendo o possível para dificultar minhas obrigações.Não ligam para agendar perícia, não enviam meus documentos no prazo, não ligam para avisar se falta algum documento, o que já gerou suspensão do meu salário.
 Não basta o transtorno que é ter esse transtorno, ainda tem tudo isso para administrar. E não falo em apoio. Falo em obrigação. Eu faço a minha parte de forma correta e espero ser atendida da mesma forma. Naõ estou pedindo favor. Estou exigindo meus direitos e fazendo meus deveres.
Penso que gostaria de voltar ao meu ofício, não sei se em sala de aula, provavelmente não. Mas posso afirmar que o preconceito impede que as pessoas que estão em recuperação, consigam reingressar na vida profissional. Não sei se vai me impedir, mas tenho certeza que vai dificultar bastante.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Uma novidade


Em uma ida a consulta psiquiátrica, entre outros assuntos abordados, minha psiquiatra falou sobre um grupo que ela participa que fala sobre a Psicologia Positiva.
Logo que ela comentou, já pensei negativamente, me remeteu a ideia de auto ajuda, e eu não consigo gostar disso.
Mas, ouvindo os relatos, fiquei atraída pela proposta.
Hoje li um pouco sobre o assunto e entendi que Psicologia Positiva é um novo conceito na Psicologia, que enfatiza as experiências positivas vividas pelo indivíduo, os relacionamentos positivos, traços positivos do caráter, sempre visando a busca pelo bem estar e a felicidade.
Temos a tendência de reclamar e focar nas coisas negativas que nos acontecem, tanto na nossa rotina, como na nossa vida. Ficamos bastante tempo pensando nos problemas, coisas a serem resolvidas, como conciliar diversas atividades, se vamos cumprir nossa agenda, entre outras.
Mas o abraço no filho, a conversa com o marido, um filme agradável, um telefonema de alguém que você gosta, um doce gostoso na padaria, um almoço preparado para você, uma roupa nova, um dia bonito de sol ou de chuva. Sim, é possível pensar em coisas boas, desviar o olhar de coisas negativas.
Todos nós temos problemas, afazeres, mas podemos tornar tudo isso mais leve.
Este conceito surgiu nos Estados Unidos, por intermédio de Martin Seligman. Cansado de estudar casos de depressão, o ex~presidente da Associação Americana de Psicologia decidiu dedicar-se a entender as origens da felicidade.
Os resultados de seu trabalho foram condensados em sua obra ""Felicidade Autêntica ", que pretendo ler.
E o resultado da proposta de trabalho da minha psiquiatra foi a elaboração de um "caderno da gratidão", uma forma simples de relatar, diariamente, todas as coisas boas que acontecem. Ela disse que no começo, há poucas coisas para escrever, mas com o passar dos dias, precisamos de mais folhas. Isso é uma das coisas que almejo no meu processo de reabilitação: reconhecer e valorizar mais as coisas positivas da vida. Já vou providenciar o caderno.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016




Gentileza ( Marisa Monte)

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca...

Este é um trecho da música 'Gentileza", de Marisa Monte, que expressa muito bem o que eu senti quando foi prescrito o lítio. Cheguei em casa e refleti sobre tudo que havia acontecido e o que poderá acontecer.
O quanto ficarei dependente deste remédio, não no sentido "químico", mas na forma que ele será indispensável na minha vida.
Me sinto melhor desde setembro do ano passado, mas acho que ainda não fiquei estável.
E a dúvida que tenho e acredito que todos portadores do TAB, já se questionam é: " e se eu parar?"
OLÁ!!

Meu nome é Beth, tenho 41 anos e sou portadora do Transtorno Afetivo Bipolar.
Este blog foi feito com a intenção de dividir experiências, compartilhar os altos e baixos, trocar ideias e trazer um pouco mais de informação sobre este transtorno.
Sou leiga no assunto, o que sei é o que eu vivo, o que leio, o que minhas adoráveis psicóloga e psiquiatra me transmitem, com muita paciência e carinho.
Pretendo esclarecer e ficar esclarecida sobre as diversas manifestações do TAB, de uma forma clara, simples e até poética.