sexta-feira, 4 de março de 2016

Um dia de cada vez

Não tem como avaliar o que prejudica mais na rotina de uma pessoa bipolar.
No meu caso, a fase depressiva é bem intensa, quase paralisante, fico isolada, não tenho vontade de me alimentar, não sinto prazer, não tenho energia, os pensamentos são negativos em relação a tudo, há presença de ideias suicidas e uma falta de esperança. Não tem como planejar alguma coisa, as tarefas diárias são desgastantes.
Na outra fase, que não sei conceituar, fico agitada, não paro de pensar, tudo ao mesmo tempo, inicio as coisas e não termino, faço planos que depois percebo que são inviáveis.
Mas hoje não consigo nem expressar direito.
Acordei disposta, com ideias de coisas para fazer, e de repente, tudo perdeu o sentido, não tenho vontade de fazer nada e nem falar com ninguém.
Isso tem se repetido. Sei que todas as pessoas tem oscilações de humor, mas percebo que as minhas estão intensas. Está difícil conviver comigo mesma, não sei como vou estar no decorrer do dia.
Assim acontece com a leitura, a produção textual. Em determinado momento, as ideias fluem, consigo me concentrar na leitura, interpretar. E pode ser que, daqui a pouco, eu não consiga me concentrar e finalizar uma atividade.
Acompanhando esse cenário, tem a irritabilidade. Mínimas coisas me estressam. Tenho atitudes extremadas, não consigo controlar na hora e depois me sinto mal pelo que fiz.
E fico intolerante com barulhos. De qualquer tipo. Então vem o isolamento, a vontade ficar sem ouvir nada e falar com ninguém.
Acho pertinente estar em casa nessa fase, de controle dos sintomas e acerto da medicação. Consigo ficar quieta quando preciso, sair quando necessário e vivenciar meu cotidiano conforme minhas limitações.
Acredito que vou ficar estável, sei que devo cumprir todas as "regras", mas confesso que cansa.
Tem um desgaste muito grande e tem dias e horas que dá vontade de esquecer tudo isso, não fazer mais nada, mas nesse momento, a doença sinaliza que está ali e eu mostro para ela que eu sou maior. Pelo menos hoje.

2 comentários:

  1. Nossa, pensei que era eu escrevendo.
    É uma triste realidade e rotina o seu post.
    É minha vida, vida de outros bipolares.
    E só quem é sabe o tanto que é pesado carregar nossa existência. Alguns acham que é identificação com a doença, que alimentamos isto.
    Vamos seguindo por nossas famílias, por nós.

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    1. Não alimentamos isso, é mais forte que nós. Mas conseguimos viver um dia de cada vez e persistindo que dias melhores virão.

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