Não consegui mais escrever. Meu pai estava doente.
Passei dias tumultuados, de grande ansiedade e sem esperança em relação ao quadro.
O nome é grande: lesão severa no tronco da coronária esquerda. Não entendi muito bem a explicação do médico sobre as artérias, as placas de gordura, mas entendi muito bem que o caso é gravíssimo, foi assim que ele falou. Ficamos impactados. Meu pai é um homem muito ativo, tem uma alimentação equilibrada, não bebe, não fuma; é inaceitável.
Diante disso, o médico nos deu duas alternativas: poderia ser feito um procedimento mais rápido, mas que teria uma sobrevida pequena (colocação de stent) ou passaria por uma cirurgia invasiva, sendo colocada ponte de safena. Pensei que poderíamos discutir sobre isso e falar na próxima consulta, mas a internação foi imediata e a decisão do meu pai também: "eu quero fazer a cirurgia porque quero viver muito". Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Eu acho que não faria nem uma coisa nem outra.
Ele ficou na emergência três dias antes de ser operado, não foi prescrito sedativo ou ansiolítico, e quando questionei o médico, ele me respondeu: "teu pai dorme a noite toda e está confiante na cirurgia."
Quantas lições eu tive nesses dias, quantas reflexões. E vi que o meu amor por ele é maior do que eu imaginava, que dependo dele e que ele depende de mim, que somos amigos, parceiros e cúmplices, na alegria e na tristeza.
Passamos momentos horríveis durante a doença da minha mãe, que veio a falecer. E esses momentos fortaleceram nossa relação. Meu pai foi meu porto seguro, sem ele eu não teria suportado a dificuldade que enfrentamos durante o tratamento da minha mãe.
Hoje é ele quem necessita de cuidados especiais, a recuperação vai ser lenta e eu sei que o melhor que posso oferecer para ele é o meu amor e a minha disponibilidade. Sim, eu vou fazer o que for possível para ele melhorar e voltar a tocar a campainha aqui de casa com uma sacola cheia de doces, repleto de histórias para contar e com uma disposição invejável.
Algumas pessoas se referem ao pai como exemplo de força, coragem e fé. Eu posso afirmar que meu pai me deu o maior exemplo de coragem, força e fé. Percebi nos olhos dele, no jeito firme de tomar uma decisão tão difícil e no aperto de mão que ele deu ao médico e aos enfermeiros quando entrou no bloco cirúrgico. Eu tive vontade de chorar e ele entrou sorrindo.
Escrevi no início"meu pai estava doente."Acho que não estava. Ele está cheio de vida. Forte e firme. Fortalecido na fé. E pronto para muitos anos de vida. E eu, muito feliz. Há tempos não sentia tanta felicidade.
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