sexta-feira, 13 de maio de 2016

Medicação

Durante um mês fiquei envolvida com o tratamento do meu pai, ainda temos a fase da recuperação, mas acredito que não será tão tensa quanto os exames e a cirurgia.
O fato é que ninguém está preparado para ver um familiar passando por exames e procedimentos invasivos. Dá medo, insegurança, o pessimismo tomou conta de mim, não consigo mais acreditar que tudo vai dar certo e que há cura para doenças graves. Também não consigo conceber que tudo está nas mãos de Deus. Seria mais fácil, mas não consigo.
Diante desse quadro turbulento, teve dias que esqueci de tomar a medicação, teve dias que não quis tomar a medicação e teve dias que tive receio de tomar a medicação e dormir a noite toda e não despertar para um possível telefonema do hospital.
E a conclusão foi triste. Não posso ficar sem a medicação. Tenho que tomar regularmente, no mesmo horário, prezar uma noite de sono tranquila, me alimentar nas horas certas, enfim; tudo o que já foi dito e feito por um tempo.
Mas esse quadro também foi oportuno para mim. Tenho curiosidade, acho que como todos bipolares, de experimentar ficar um tempo sem medicação e ver quem eu sou, quem eu  era antes disso tudo. Tenho comportamentos e atitudes que nao sei se são meus ou são efeitos da medicação. O que é determinado pela doença? O que é minha personalidade? Será mesmo que preciso me dopar de remédios psiquiátricos para poder viver conforme as regras da sociedade? Essa dúvida está me acompanhando há alguns dias.
Fiz a comparação. Quando estava com o tratamento correto, meu sono foi melhor, meus dias mais tranquilos; mas fico mais lerda, parece que tenho um distanciamento dos sentimentos, não sinto emoção e não tenho vontade de conviver com as pessoas.
Sem o tratamento, fico mais agitada, com mais energia, os pensamentos fluem, tenho mais ideias; mas fico muito irritada com tudo. Uma irritação que dá palpitação e que tenho que respirar fundo para controlar.
Tudo tem o lado bom e o ruim. No geral, seguindo tudo corretamente, passo os dias alternando o meu comportamento. Acordo bem ou não, depois posso piorar, posso fazer muitas coisas ou fazer nada, tenho vontade de sair, comprar, ou não quero ver as pessoas. Essa oscilação leva ao desgaste.
A conclusão é que acho que nunca estive estabilizada. Tive momentos menos intensos, com mais tranquilidade.
Todos tem dias bons, dias ruins, de tarde está bem, de manhã está de mau humor. Mas na pessoa bipolar isso é muito intenso, é desgastante, cansa, as coisas são muito positivas ou muito negativas.
Tenho muita coisa para passar ainda, leio muito sobre o assunto, mas infelizmente aprendo mais com a prática, com meu dia a dia.
Queria entender se os problemas emocionais desencadearam o transtorno bipolar ou o transtorno bipolar provocou problemas emocionais?
Quando começou isso tudo?

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