quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O ESTIGMA QUE NÃO QUER CALAR

Poucas pessoas sabem que sou portadora do Transtorno Bipolar e faço uso de medicação contínua. Poucas mesmo. Os profissionais de saúde, meu marido, minhas filhas e três amigas. Não sinto necessidade de falar porque acredito que não vai mudar nada e esse meu comportamento eu conceituo como estigma. Sim, ele inicia comigo, eu entendo o que tenho, leio sobre o assunto, não nego; mas ainda não aceito.
Faço esse preâmbulo para elucidar o que vem acontecendo comigo no meu trabalho. Sou funcionária pública. Estou afastada desde agosto do ano passado. Tenho consulta mensal com a psiquiatra, que prescreve medicamentos, e após avaliação, me libera ou não para o trabalho. Depois disso, encaminho o atestado no protocolo, passo por uma Junta Médica, que "troca" o atestado e faz alguns questionamentos referentes a minha doença.
Como essa situação já perdura há algum tempo, soube de comentários do tipo"só pode ter ficado louca, tanto tempo afastada"; "está simulando, ela não tem nada"; "talvez esteja com câncer";"trabalhar é bom, ela está com preguiça". Comentários feitos por "colegas" da escola.
Sei que é difícil entender, visualizar essa doença. Se eu estivesse machucada, sangrando, com gesso, as pessoas desprovidas de conhecimento entenderiam melhor. Mas é muito subjetivo. E talvez a minha imagem não transmita essa informação de pessoa depressiva.
No início do ano pensei sobre o retorno. Um novo ano letivo, nova turma, comecei a elaborar essa ideia, imaginar o que poderia acontecer, sei que tenho que tentar. Ainda não é o momento, quero estar preparada para isso. E tampouco ninguém está me cobrando essa decisão. Pretendo definir isso com minha médica, minha psicóloga e meu marido. Tenho muito medo de ter recaída.
Mas diante disso, que ambiente me espera? hostil, sem acolhimento, cínico, falso.
Não é só isso. Até mesmo as questões burocráticas. Percebo que estão fazendo o possível para dificultar minhas obrigações.Não ligam para agendar perícia, não enviam meus documentos no prazo, não ligam para avisar se falta algum documento, o que já gerou suspensão do meu salário.
 Não basta o transtorno que é ter esse transtorno, ainda tem tudo isso para administrar. E não falo em apoio. Falo em obrigação. Eu faço a minha parte de forma correta e espero ser atendida da mesma forma. Naõ estou pedindo favor. Estou exigindo meus direitos e fazendo meus deveres.
Penso que gostaria de voltar ao meu ofício, não sei se em sala de aula, provavelmente não. Mas posso afirmar que o preconceito impede que as pessoas que estão em recuperação, consigam reingressar na vida profissional. Não sei se vai me impedir, mas tenho certeza que vai dificultar bastante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário