quinta-feira, 31 de março de 2016

Está tudo bem?

"Estão todos bem"é um filme que foi produzido em 2010, cujo ator principal é o Robert de Niro, que dedica sua vida para família. Depois que a esposa morre, ele não consegue mais reunir os filhos e então decide visitá-los e aí ele percebe que não está tudo bem.

Hoje seria o aniversário da minha mãe, ela faleceu há três anos. Não preciso mencionar que muita coisa mudou, a estrutura familiar, os finais de semana, tudo um pouco. Sem falar que ela era meu refúgio para tudo. Então eu penso: como eu estou? como ficou a família? Ela era o alicerce, a que conduzia, a que dava seu toque de magia nas reuniões e que fazia sempre estar tudo bem. Mesmo com problemas, como todos, ela conseguia de alguma forma, administrar tudo isso. Ao menos era minha impressão e isso me dava segurança para viver. Confiança e certeza de que as coisas vão dar certo.

Tento pensar que hoje está tudo bem. Tenho um marido que me apoia, duas filhas que amo e são motivo de orgulho, mas não está tudo bem. De maneira alguma posso dizer que tudo ficou assim porque perdi minha mãe. Não. As coisas foram acontecendo a partir desse pesaroso momento. E foram se intensificando e tomando proporções que eu não acreditava e desconhecia.

Hoje procuro ser essa sustentação na minha família, mas é muita pretensão. Porque eu não estou bem, não estou resolvida. Acho que minha mãe também , certamente, tinha vários problemas e não estava tudo bem. Aliás, tudo bem é muito amplo. Nunca está tudo bem. Mas o que eu admirava era essa habilidade dela saber lidar com isso e não deixar transparecer. Isso é bom e ruim. Ela deve ter sofrido com isso. Mas era o máximo de uma bondade.

"Estão todos bem" talvez seja melhor assim. Todos seguiram suas vidas, o tempo vai passando, a dor vai diminuindo e a saudade aumentando. Mas não está tudo bem.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Sobre o nome do blog

'Humor na Montanha Russa".  O que esse título nos faz pensar?
Em um primeiro momento, imaginamos um parque de diversões, com uma montanha russa divertida, bonita, com descidas e subidas, os altos e baixos. Então se compara ao Transtorno Bipolar, onde há a presença de dois pólos, um mais para o alto (fase maníaca) e um mais para baixo (fase depressiva).
Desde que fui diagnosticada com a doença, presto mais atençao nos sintomas e procuro saber identificar o que estou vivendo para que eu passe esse momento da forma mais amena.
As pessoas procuram o parque de diversões para se sentirem alegres. A montanha russa é um brinquedo que dá "um frio na barriga", e que tanto as descidas, quanto as subidas, são aguardadas com o objetivo de sentir prazer.
Então acho que não dá para comparar com o Transtorno Bipolar.
 Tenho vivenciado subidas e descidas muito rápidas, de uma semana para outra, de um dia para outro, que me deixam desanimadas e chateadas. É claro que a subida, a fase maníaca, é mais prazerosa, mas ela vem acompanhada de uma descida permeada de dor de cabeça, de arrependimento por ter exagerado em algumas coisas, por não ter ponderado certas situações, tentado resolver de forma imediata, por ter falado  demais, dormido pouco ; e isso compromete o senso crítico e o julgamento, ou na linguagem mais vulgar, "perdemos a razão".
E a descida é escura, vaga, não sabemos onde queremos ir , se queremos ir e muito menos onde vamos chegar.
Queria que fosse como a montanha russa, em que subimos e descemos com alegria, com um pouco de medo, mas com prazer. E lembrando que a montanha russa tem uma linha reta também, que nos permite respirar e nos preparar para as subidas e descidas.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Arrependimento x bipolaridade???

Hoje assistindo ao programa da Fátima Bernardes, acompanhei um tema que me despertou curiosidade. As pessoas da plateia receberam algumas placas e deveriam escrever nelas o que elas se arrependem. Tiveram várias respostas inusitadas, como "de ter ido ao cemitério", "de ter feito uma tatuagem", "quem tem que se arrepender é meu ex" e outras mais emotivas, que não me chamaram atenção.
A pergunta é: "do que você se arrepende?". Em um primeiro momento, algumas pessoas, que se acham detentoras da experiência da vida (me desculpe, mas essa é minha opinião), irão responder que não se arrependem de nada.
Eu posso afirmar que me arrependo de várias coisas, que seria cansativo enumerar, umas mais intensas que as outras. Mas a resposta que me veio a cabeça, de imediato, foi: "eu me arrependo de não ter falado".
Já comentei em outro post que prefiro ouvir. Isso não mudou. Mas hoje eu reflito sobre a necessidade de falar mais, dar minha opinião, dizer naaaaaaao!!!! Não gosto, não quero.
E a bipolaridade?? Sim, pode ser genética. Sim, pode se manifestar em um momento de maior vulnerabilidade, baixa auto estima, fragilidade com tudo, dor. Eu passei anos "baixando a cabeça", preferindo evitar o cansaço físico e mental. E quando passei pelo momento mais difícil da minha vida, que foi a perda da minha mãe, a depressão resolveu se apresentar. Não dei as boas vindas, resisti ao tratamento de imediato, as coisas foram piorando, os sintomas foram se intensificando, não tratei com seriedade os sintomas e o tratamento, até que cheguei ao extremo: psicótica-depressiva-maníaca-suicida. Bipolar.
Então, onde quero chegar. O fato de eu não ter expressado minhas emoções, meus sentimentos, propiciou o desenvolvimento do transtorno. Essa é só minha opinião reflexiva. Assim como o câncer, que pode estar inerte, e no momento de baixa imunidade, de grande estresse, ele vem à tona.
Mas estou muito satisfeita, porque percebo melhoras, um crescimento lento e gradual, uma mudança positiva, que está me direcionando a novos caminnhos e novas perspectivas. Vale ressaltar que o apoio da terapeuta e da psiquiatra foram fundamentais nessa decisão.
Porque é disso que precisamos na vida: objetivos. Preciso ter mais. Estou gostando.









terça-feira, 15 de março de 2016

Solidão bipolar

Isso que eu devo fazer.
Aprender a me olhar. Quem sabe, me aceitar.
Ontem passei um dia turbulento, acordei sem energia, sem ideias, pedindo para que o dia acabasse.
De tarde, de repente, resolvi sair. Olhei livros, lojas, fiz compras desnecessárias. Detardinha tive visita e foi muito bom conversar. Devo confessar que me sinto sozinha e às vezes não sei o que fazer com essa solidão.
Estou perplexa com esses "altos e baixos", talvez porque agora estou identificando esses extremos.
Hoje acordei calma, mas sem disposição. Percebi que mais um dia me aguarda. Sozinha com a minha solidão. Eu que tenho que dominar isso. Mas a irritabilidade logo se manifestou, quando as palavras da minha mãe soaram nos meus ouvidos"tudo que é demais faz mal".
 Está faltando equilíbrio nas ações das pessoas. E isso me afeta. O problema é meu, eu que tenho que administrar, mas sou humilde em admitir que precisaria de mais pessoas ao meu lado. Cada um tem sua vida, canaliza suas energias onde achar melhor, tem seus afazeres diários, e quem sou eu para sobrecarregar alguém. Vivi muito tempo sem dividir com ninguém o que eu passava, não será agora que vou fazer isso.
Porém, quero registrar que essa solidão, que por vezes pode ser muito produtiva; por outro lado é aquela que me afundou, aquela que compartilhei o pior momento da minha vida. E eu sempre gostei de ficar sozinha. Mas até isso é bipolar. É bom ficar sozinha, mas dá medo.
É bom quando leio um livro, escrevo, olho um filme, preparo a casa para esperar minha família, ouço música, me arrumo.
Dá medo quando os pensamentos ruins dominam, quando o silêncio fica muito alto, quando vem a desesperança e não há planos para o futuro. Basta pensar que nada tem sentido e é duvidoso continuar assim. Então dá raiva, taquicardia e vontade de tomar muitos remédios.
Sou bipolar. É isso.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quem é esse médico?

Então hoje foi o dia de ir no médico psiquiatra do município onde trabalho. Aquele que a "médica" da Junta me indicou.
Estava há dias pensando nessa consulta, afinal estaria sob o olhar de um outro psiquiatra, que não sabe nada da minha história, ou muito pouco, porque às vezes participa da Junta Médica.
Sou calada e tenho dificuldade de expressar verbalmente o que sinto, o que penso. Demoro bastante para relatar as coisas para os médicos, e essa avaliação era muito importante. Tenho que melhorar isso, saio das consultas com dúvidas, com coisas que gostaria de ter falado. Mas não falo.
Ontem fui pensando que eu tinha que falar tudo. Que eu não ia mais uma vez voltar com frases e pensamentos entalados. E porque não com uma pessoa desconhecida?
Entrei na sala em silêncio e esperei o questionário. Foi básico, respondi todas as perguntas de forma monossilábica. Até que ele perguntou quando iniciaram os sintomas e quando fui diagnosticada com Transtorno Bipolar. Pensei ou eu resumo, digo que faz cinco meses e saio logo daqui ou tento fazer o que nunca consigo. E eu consegui!! Ele teve que me ouvir. Inclusive, e eu estou pasma, eu "cortei"ele algumas vezes para não perder o raciocínio. Falei tudo que tive, desde sintomas, medicamentos, consegui lembrar. Ele comentou que não tinha ideia de tudo isso, que foi muito bom termos conversado e que o que aconteceu foi muito grave.
Para minha surpresa, se colocou à disposição e disse que o meu retorno será muito bem vindo após um tempo de estabilidade. E que vamos pensar juntos no melhor setor e cargo para eu trabalhar.
Eu estou muito aliviada. Tive uma experiência tão ruim com a "médica" e imaginei um monstro me atendendo. Sem compreensão, sem apoio, somente interessado no retorno. Mas fui surpreendida positivamente.
Esse médico é graduado em Medicina do Trabalho e atua no município há alguns anos. Realiza Perícia Médica no município e devido ao grande número de afastamentos de funcionários com quadros psiquiátricos, ele fez especialização em Psiquiatria, concluída em dezembro do último ano.
Acho que foi um ótimo investimento e seria muito bom se outros médicos também tivessem esse olhar.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Por que eles voltam?

Eles começaram de forma insidiosa. Aos poucos. Foram se desenvolvendo, tomando jeito, visualizando contexto ideal, se tornando a promessa do fim do sofrimento. Era só uma hipótese, uma alternativa inviável. Pensava e parava. Mas o quadro foi ficando mais grave, a dor aumentou.
Então surgiram várias ideias, pesquisas, a coragem ou o medo. Pensamento egoísta? talvez.
Depois de tentar o suicídio algumas vezes, devidamente medicada e com o apoio necessário, aos poucos eles foram indo embora.
Mas o que acontece agora? Eles não chegam vagarosamente, eles vem de repente. Sei que preciso ser mais tolerante com algumas coisas, mas esses extremos abalam muito. É tudo muito intenso.
Precisamos falar mais sobre isso.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Um dia de cada vez

Não tem como avaliar o que prejudica mais na rotina de uma pessoa bipolar.
No meu caso, a fase depressiva é bem intensa, quase paralisante, fico isolada, não tenho vontade de me alimentar, não sinto prazer, não tenho energia, os pensamentos são negativos em relação a tudo, há presença de ideias suicidas e uma falta de esperança. Não tem como planejar alguma coisa, as tarefas diárias são desgastantes.
Na outra fase, que não sei conceituar, fico agitada, não paro de pensar, tudo ao mesmo tempo, inicio as coisas e não termino, faço planos que depois percebo que são inviáveis.
Mas hoje não consigo nem expressar direito.
Acordei disposta, com ideias de coisas para fazer, e de repente, tudo perdeu o sentido, não tenho vontade de fazer nada e nem falar com ninguém.
Isso tem se repetido. Sei que todas as pessoas tem oscilações de humor, mas percebo que as minhas estão intensas. Está difícil conviver comigo mesma, não sei como vou estar no decorrer do dia.
Assim acontece com a leitura, a produção textual. Em determinado momento, as ideias fluem, consigo me concentrar na leitura, interpretar. E pode ser que, daqui a pouco, eu não consiga me concentrar e finalizar uma atividade.
Acompanhando esse cenário, tem a irritabilidade. Mínimas coisas me estressam. Tenho atitudes extremadas, não consigo controlar na hora e depois me sinto mal pelo que fiz.
E fico intolerante com barulhos. De qualquer tipo. Então vem o isolamento, a vontade ficar sem ouvir nada e falar com ninguém.
Acho pertinente estar em casa nessa fase, de controle dos sintomas e acerto da medicação. Consigo ficar quieta quando preciso, sair quando necessário e vivenciar meu cotidiano conforme minhas limitações.
Acredito que vou ficar estável, sei que devo cumprir todas as "regras", mas confesso que cansa.
Tem um desgaste muito grande e tem dias e horas que dá vontade de esquecer tudo isso, não fazer mais nada, mas nesse momento, a doença sinaliza que está ali e eu mostro para ela que eu sou maior. Pelo menos hoje.