Gostaria de apresentar uma "médica".
Eu não gosto de falar. Prefiro ouvir e
escrever.
Então preciso registrar o que aconteceu
ontem durante mais uma perícia.
Passei pela Junta Médica, onde fui
avaliada com olhares agressivos logo na entrada.
Esta médica nunca perguntou como me sinto,
o que está acontecendo, mas ontem ela se superou.
Sentei e ela olhou minha pasta e comentou
sobre os meus atestados psiquiátricos. Perguntou desde quando estava
afastada e por quanto tempo eu imagino continuar. Como se existisse uma
previsão.
“Trocou” o atestado, muito contrariada e
falou para eu marcar uma consulta com o médico psiquiatra da cidade onde
trabalho, porque ela acha que tenho condições de retornar.
Quem é ela para achar alguma coisa? Não me
acompanha, não sabe de nada, mal olha para mim. Senti um poder abusivo da parte
dela, senti também, humilhação.
Mas o pior foi o comentário na saída do
consultório: "Eu, como médica do trabalho, já sugeri aqui no município, a
inclusão de psicotécnico nos exames admissionais, para evitar esse tipo de
problema". Tentei explicar, não sei porque sou tão idiota, que fui
diagnosticada há cinco meses com Transtorno Bipolar e já estou há nove
anos no município. Para finalizar, ela disse que os problemas já teriam
aparecido no psicotécnico..
Problemas, problemas. As palavras tocam
fundo. Me marcam muito. Sou um problema para o município, sou onerosa. Então,
para que facilitar?? Vamos dificultar.Vamos rotular. Pacientes psiquiátricos
precisam passar por avaliação individual. É tudo muito subjetivo. Tudo
bem. Vou fazer a avaliação. E vou preparada para falar. Eles que
estejam preparados para ouvir. Não quero ficar com vergonha, me sentir
constrangida. Como sempre.
Não costumo chorar, nem quando estou
deprimida. Mas ontem confesso que chorei, tive uma dor, uma vontade de
voltar naquele consultório e "soltar o verbo". Estou cansada de ficar
contida. As pessoas abusam.
Agora quero revelar a identidade dessa
médica. Essa médica é a mesma que me atendeu quando tirei quinze dias de
atestado para levar a minha mãe para fazer sessões de radioterapia, em 2011.
Essa médica é a mesma que me atendeu
quando levei meu primeiro atestado de depressão, que foi logo após o
falecimento da minha mãe.
Essa médica é a pessoa que fez
um dos comentários mais dolorosos que já ouvi na vida. "Como você
ficou depressiva se sua mãe estava com câncer. Não sabia que ela ia
morrer?"
Eu a chamo de médica porque concluiu o
curso de Medicina. Mas tenho certeza que alguns colegas devem se envergonhar de
uma profissional assim. E como paciente, estou nas mãos dela.
Essa médica também perdeu a mãe
recentemente. Ainda bem que ela se "controlou" para não ficar
depressiva. Ou melhor, pessoas assim tem coração de pedra.